Alguns canais de televisão estão
mostrando, ininterruptamente, apenas as cenas de violência de um movimento que
é, em sua maioria, pacífico. E também, estão colocando em um mesmo bojo, os
manifestantes que saqueiam lojas e depredam propriedades privadas, e aqueles
que tentam invadir palácios ou atacam qualquer coisa de propriedade do Estado.
Historicamente, as revoltas populares elegem os palácios de governantes como
alvos de ataques porque, em última análise, eles simbolizam o seu poder. As
suas paredes são o símbolo concreto do poder que não mais é mais aceito. Seja o
Itamaraty ou qualquer palácio no qual fiquem alojados câmaras e assembleias
legislativas, seja em equipamentos estatais de qualquer natureza. Não é a mesma
coisa que roubar uma televisão ou loja de telefones como aconteceu aqui em BH
ou no Rio. Não é a mesma coisa que apedrejar uma loja particular. Esses
oportunistas estão aí nas ruas roubando e quebrando casa haja ou não, as
manifestações. Esses canais de televisão estão passando a imagem do que não é.
Não; não é um movimento violento. Se analisarmos o número de feridos e de
mortes, perante o número de manifestantes nas ruas, se concluirá que ele é
ínfimo se comparado à multidão de insatisfeitos. Em grandes shows de rock, por
exemplo, por vezes, temos mais feridos do que verificou-se até agora nas
manifestações. O que está acontecendo, psicologicamente, é expressão de tudo o
que está dentro das pessoas. É sentimento puro: raiva, indignação,
insatisfação, coragem e mais uma série de outros. Sentimentos esses traduzidos pelo seguinte
recado aos governantes e partidos: vocês não me representam. A população se
sente atacada, agredida diariamente pelo poder público, quando não há saúde
decente, quando falta educação de qualidade, quando os governantes usam seus
cargos exclusivamente para benefício próprio e uma série de coisas que nos
colocam em último plano. E, quando nós, seres humanos, somos atacados, só há
três possibilidades. Fugimos, apenas nos defendemos ou contra-atacamos. Fugir
ficou fora de cogitação por obviedade. O brasileiro resolveu encarar a coisa de
frente. E, numa multidão de pessoas
insatisfeitas, umas gritarão e cantarão para se defender e outras atacarão
mesmo, quebrando símbolos concretos do poder dos governantes. Não se trata de
defender esses atos. Trata-se apenas de dizer que a agressividade faz parte da
natureza humana e que, em um conjunto tão grande de pessoas, esse comportamento
estaria presente e estará ainda em muitas delas. Não tem nada a ver com nível
intelectual, de politização ou de educação. Tem relação com o mal estar sentido
quando se é agredido. Vide as últimas revoltas na França (país em tese mais
politizado do que o Brasil), quando dezenas de milhares de carros que foram
incendiados de norte a sul do país pela população revoltada. Não. Não são todos
criminosos e vândalos. Na sua maioria, são pessoas que só querem o justo, o
digno e o mínimo de respeito.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim
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