quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Insatisfação, seja bem-vinda!

Hoje estive lendo a "orelha" do livro do escritor e filósofo Mário Sérgio Cortella. O livro, intitulado "Não nascemos prontos - provocações filosóficas", traz uma interessante reflexão acerca da insatisfação. Segundo o Mário, o que move o ser humano nas mais variadas direções é exatamente o fato de estarmos insatisfeitos. Se estamos insatifeitos é porque falta-nos algo ou alguém. Creio que o filósofo está dizendo mais ou menos o que Freud disse em relação ao aspecto da falta. Todos somos seres "de falta". A todo momento estamos em busca do que irá preencher essa sensação. Pode ser um emprego melhor, mais dinheiro, um curso, um carro, uma casa, uma pessoa. Agora, o interessante, é que sempre falta alguma coisa, mesmo quando atingimos uma determinada meta. De acordo com Hobbes, a existência humana é permeada por um desejo sem fim. Em última instância, sempre irá faltar algo, que produzirá uma insatisfação que, por sua vez, servirá de combustível para a realização do que desejamos. Desta maneira, entendo que, toda vez em que estivermos insatisfeitos, essa situação deva ser vista com bons olhos. Tem um amigo meu, o Daniel, que diz que "se a coisa estiver incomodando é porque está bom". Parece até que ele leu o livro do Mário, ou, até mesmo, Freud. De fato, estamos praticamente condenados a estarmos incomodados com o que nos falta, com o que desejamos. Entretanto, gostaria de fazer uma observação: a insatisfação só se torna produtiva para pessoas que se encontram em um estado razoável de saúde mental. Ao que tudo indica, caso o indivíduo esteja emocionalmente desequilibrado e/ou fragilizado, a insatisfação pode levá-lo a um quadro de tristeza crônica e, quem sabe, depressão. Por isso é importante sabermos colocar a nossa insatisfação como uma ferramenta que irá nos auxiliar. Toda ferramenta pode ter duas utilizadades: uma saudável e outra mortífera. Uma faca, por exemplo, serve para cortamos uma carne, passarmos manteiga no pão etc. De forma indêntica pode ser utilizada para matar uma pessoa ou, quem sabe, até tirar a própria vida. Sugiro que a insatisfação seja bem-vinda. E, que a partir dela, você possa utilizá-la para refletir sobre como se movimentar para deixá-la para trás. Mas não se iluda: o alívio é sempre momentâneo. Dentro de pouco tempo nova insatisfação se instala e um novo movimento torna-se necessário para seu alívio. E, como vida é movimento, acho bom ir se acostumando com isso. Afinal de contas, a cada satisfação, surge uma nova insatisfação. A eliminação momentânea dessa última traz, geralmente, alívio e prazer - sensações que nos trazem conforto e realização. De acordo com o perspectiva oriental (chinesa), o processo é cíclico, como a maioria das coisas da natureza. Portanto, use a sua insatisfação para criar, transformar, lutar e assim, atingir os seus objetivos. É isso que dá gosto à vida.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim