Mataram os cartunistas. Creio que esse episódio
tenha doído em todos nós. Afinal, pensar em pessoas que estão trabalhando em
seus escritórios serem brutalmente assassinadas é muito impactante. No entanto,
pra onde quer que se olhe na internet, vê-se a expressão: “Je suis Charlie”; ou seja, somos todos
Charlie. Pois bem. Matutando sobre isso e lendo algumas coisas sobre a religião
mulçumana, comecei a questionar se seria correto todos sermos Charlie. Em
primeiro lugar, aprendi que na religião Mulçumana, o profeta Maomé não pode ser
retratado em hipótese alguma. Quando se desrespeita tal preceito,
automaticamente está se desrespeitando a todos os muçulmanos. Portanto,
infelizmente, os cartunistas, em parte foram responsáveis pelo que lhes
aconteceu.
Posso parecer muito severo, mas penso que foi
isso. Todas as religiões têm seus fanáticos que distorcem o que está escrito.
Seja na Bíblia, no Torá, no Alcorão etc., sempre existem seus radicais que
podem partir para atos inconsequentes. O problema é que, ao retratar todo
muçulmano como terrorista, cercado por bombas e armas, passa-se a imagem de que
todos são assim. E isso não é verdade, da mesma forma que nem todo padre é
pedófilo e que nem todo pastor evangélico só pensa em arrancar dinheiro dos fieis. No entanto,
sabemos bem que ambos os exemplos existem.
Ao alegar
direito de expressão para desenhar e escrever o que bem se pensa, cria-se
um terreno perigoso de convívio para a humanidade. Ao se defender que tudo se pode, uma vez que trata-se de
liberdade, cria-se uma condição perigosa para que radicais como os dois irmãos
assassinos atuem. Não. Não se pode falar, desenhar e escrever o que bem se
entende. Se a humanidade fosse pautada pela liberdade de todos expressarem o
que bem pensam, a convivência seria inviável. Daí poderiam me alegar de
defender a censura. Sim, defendo. Mas não a censura burra e que fica a serviço
de algum tipo de poder. E sim, a censura do que ofende e humilha outros seres
humanos.
Não acho a menor graça nas piadas que chamam os
portugueses de burros, ou então as que ofendem os negros ou os homossexuais.
Não acho que podemos falar o que bem entendemos no que diz respeito, por
exemplo, a caluniarmos qualquer pessoa sem termos algum tipo de prova. Não acho
legal dizer pra uma pessoa que te convidou para um jantar que ela mesma iria
preparar, que a comida estava péssima. Ah, mas eu tenho direito de me
expressar. Sim, tem. E também tem o direito de ser processada por calúnia, de
ser presa por racismo, de ficar isolada por ser inconveniente socialmente ou de
sofrer retaliações por ter falado mal de uma religião aos quatro ventos. Aqui
se faz; aqui se paga.
O assassinato, como qualquer forma de violência
é condenável. No entanto, não há como não dizer que os cartunistas escolheram
correr riscos ao demonstrarem claramente a sua xenofobia (a maior parte dos
muçulmanos da França são oriundos de ex-colônias como Argélia e Marrocos) em
nome do que é chamado direito de se expressar. Portanto, pra mim, “Je ne suis
pas Charlie” – ou seja, Não somos todos Charlie.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim
Uma das charges produzidas pelos cartunistas - A Santíssima Trindade fazendo sexo a três