segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Praia, sujeira e falta de uma consciência mínima. Até quando?

Gosto da praia. Como quase todo belo horizontino, quiçá mineiro, pensar em férias, quase sempre é sinônimo de pensar em praia. Mas, eu gosto não só por causa do mar, da areia, do vento refrescante, entre outras coisas. Gosto, além desses motivos, por achar que a praia é um lugar interessantíssimo. Penso que seja um dos lugares mais democráticos que existe. Não foi construída pelo homem, diferente das ruas e avenidas, que são locais públicos em que qualquer pessoa pode estar, porém, construídos pela mão humana. A praia não. Nos foi dada pela natureza, por Deus ou seja lá por quem for. Fato é que ela fica lá o ano inteiro e abraça a todos. Pobres, ricos, gordos, magros, letrados, analfabetos, espiritualistas, ateus, gente com todos os tons de pele, homens, mulheres, bebês, crianças, idosos e mais uma infinidade de pessoas. Enfim, a praia recebe a todos de braços abertos. Só que essa generosidade toda não é compreendida por boa parte dos frequentadores. Pelo fato de não impor nenhum tipo de restrição, a praia recebe também os mal educados e egoístas, que não têm noção de cidadania e que, por conseguinte, não se preocupam com os outros.

Agora, o que me irritou mesmo, foi frequentar neste verão as praias do nordeste e ver o comportamento das pessoas ao consumirem bebidas e alimentos diversos. O lixo deixado pra trás foi deprimente. Os finais de tarde nessas praias pareciam um cenário de filme de horror. Ou melhor, um cenário de depósito de lixo. Inclusive, porque tinha gente de todo tipo fazendo as suas porcarias: desde o tipo que leva seus isopores, caixas térmicas e vasilhinhas, até gente mais rica - coisa facilmente observável pelos óculos escuros, relógios, cervejas importadas, pulseiras douradas etc. Portanto, não me venham com essa de quem suja a praia é pobre e que pobreza é sinônimo de falta de educação e cidadania.

Imediatamente me veio à mente aquela cena dos japoneses na Copa do Mundo aqui no Brasil. Levaram sacos plásticos para o estádio e recolheram seu lixo após os jogos. Imagino que ficariam estarrecidos vendo o finais de tarde aos quais me referi. Temos um problema crônico de educação. Mas, não estou me referindo àquela educação em que se aprende matemática, português, geografia, não… Estou me referindo à educação no que tange à cidadania. À noção de direitos, deveres e, fundamentalmente, ao convívio com o próximo e com a natureza. O homem, de uma forma míope, se vê como alguém externo à natureza e, portanto, não  fazendo parte dela.


É como se homem e natureza não fizessem parte de um mesmo pacote. Como se o que ele fizesse com ela não repercutisse em sua vida e na de todos os outros. Como diria Eric Hobsbawm, agindo assim, o mundo corre o risco de “implodir e explodir ao mesmo tempo”. A praia ainda vai continuar lá, de braços abertos, esperando que nós passemos entender melhor essas coisas. Só não sabemos até quando, porque, até mesmo a natureza, tem limite de paciência. Basta ver como ela anda se revoltando. Freud já previa algo ao dizer que uma das três fontes de sofrimento do ser humano seria a força da natureza, sobre a qual não temos controle. É melhor repensarmos nossas atitudes antes que ela se revolte de vez e não apenas esporadicamente, como tem feito.

Um abraço fraterno,

Douglas Amorim




Foto de final de tarde, tirada por mim, na Praia do Francês/AL em Janeiro de 2015