Gosto da praia. Como quase todo belo
horizontino, quiçá mineiro, pensar em férias, quase sempre é sinônimo de pensar
em praia. Mas, eu gosto não só por causa do mar, da areia, do vento
refrescante, entre outras coisas. Gosto, além desses motivos, por achar que a
praia é um lugar interessantíssimo. Penso que seja um dos lugares mais
democráticos que existe. Não foi construída pelo homem, diferente das ruas e
avenidas, que são locais públicos em que qualquer pessoa pode estar, porém,
construídos pela mão humana. A praia não. Nos foi dada pela natureza, por Deus
ou seja lá por quem for. Fato é que ela fica lá o ano inteiro e abraça a todos.
Pobres, ricos, gordos, magros, letrados, analfabetos, espiritualistas, ateus,
gente com todos os tons de pele, homens, mulheres, bebês, crianças, idosos e
mais uma infinidade de pessoas. Enfim, a praia recebe a todos de braços
abertos. Só que essa generosidade toda não é compreendida por boa parte dos
frequentadores. Pelo fato de não impor nenhum tipo de restrição, a praia recebe
também os mal educados e egoístas, que não têm noção de cidadania e que, por
conseguinte, não se preocupam com os outros.
Agora, o que me irritou mesmo, foi frequentar
neste verão as praias do nordeste e ver o comportamento das pessoas ao
consumirem bebidas e alimentos diversos. O lixo deixado pra trás foi
deprimente. Os finais de tarde nessas praias pareciam um cenário de filme de
horror. Ou melhor, um cenário de depósito de lixo. Inclusive, porque tinha
gente de todo tipo fazendo as suas porcarias: desde o tipo que leva seus
isopores, caixas térmicas e vasilhinhas, até gente mais rica - coisa facilmente
observável pelos óculos escuros, relógios, cervejas importadas, pulseiras
douradas etc. Portanto, não me venham com essa de quem suja a praia é pobre e
que pobreza é sinônimo de falta de educação e cidadania.
Imediatamente me veio à mente aquela cena dos
japoneses na Copa do Mundo aqui no Brasil. Levaram sacos plásticos para o
estádio e recolheram seu lixo após os jogos. Imagino que ficariam estarrecidos
vendo o finais de tarde aos quais me referi. Temos um problema crônico de
educação. Mas, não estou me referindo àquela educação em que se aprende
matemática, português, geografia, não… Estou me referindo à educação no que
tange à cidadania. À noção de direitos, deveres e, fundamentalmente, ao
convívio com o próximo e com a natureza. O homem, de uma forma míope, se vê
como alguém externo à natureza e, portanto, não
fazendo parte dela.
É como se homem e natureza não fizessem parte
de um mesmo pacote. Como se o que ele fizesse com ela não repercutisse em sua
vida e na de todos os outros. Como diria Eric Hobsbawm, agindo assim, o mundo
corre o risco de “implodir e explodir ao mesmo tempo”. A praia ainda vai
continuar lá, de braços abertos, esperando que nós passemos entender melhor
essas coisas. Só não sabemos até quando, porque, até mesmo a natureza, tem
limite de paciência. Basta ver como ela anda se revoltando. Freud já previa
algo ao dizer que uma das três fontes de sofrimento do ser humano seria a força
da natureza, sobre a qual não temos controle. É melhor repensarmos nossas
atitudes antes que ela se revolte de vez e não apenas esporadicamente, como tem
feito.
Um abraço fraterno,