domingo, 6 de setembro de 2009

Mente doente, corpo doente

Creio que, apesar de óbvio, poucas pessoas parem para pensar na afirmação que se segue: a nossa relação com o planeta Terra é mediada por duas instâncias, intituladas corpo e mente. Só isso. Não tem mais nada (obviamente não estou entrando, aqui, em questões espirituais, porque, tal discussão fugiria da proposta do tema). Se, portanto, além de espírito (como queiram alguns), só nos resta a MENTE e o CORPO, por consequência, concluímos que, nestas duas instâncias e, tão somente nelas, poderemos realizar diagnósticos científicos de adoecimento. Acontece que, de um bom tempo para cá, uma área da Psicologia denominada Psicossomática, vem demonstrando como o adoecimento psíquico se manifesta em nosso corpo. É algo difícil de se acreditar, ainda mais em nossa sociedade cartesiana aonde tudo tem de ser "pesado", "medido", "quantificado". Como se quantificam as emoções? Um quilo de tristeza? Um metro de cíúmes? Um litro de mágoa? É; não tem jeito. Emoções são coisas que a gente não toca. Entretanto, elas tocam o corpo (e como), e, quando não temos lá muita habilidade para lidar com determinados sentimentos, começam a aparecer umas "coisas engraçadas". Vou citar apenas algumas delas, porque a lista, infelizmente, é interminável... Úlceras, gastrites, prisões de ventre, diarréias, cefaléias, dermatites, queda de cabelos, dores musculares e em articulações, paralisias de membros, insônia ou excesso de sono, aumento excessivo de peso, baixa de imunidade e uma infinidade de outras moléstias. Geralmente, essas pessoas acabam, por encaminhamento dos médicos, parando em consultórios de Psicologia. Alguns profissionais da Medicina investigam, "viram o paciente de cabeça para baixo" e não encontram nada. Nada material. Sobra o emocional, que precisa ser cuidado. E, em outras vezes, encontram sim, lesões, como, por exemplo, uma úlcera. É, realmente, muito interessante - Algo que não é concreto - emoções - caso não sejam vivenciadas de forma saudável, geram lesões no concreto - corpo - . Fica aí uma dica para o (a) amigo (a) leitor (a). Tente cuidar bem de sua mente e de seu corpo. As duas instâncias andam de mãos dadas o tempo todo. Mente doente, adoece o corpo. O inverso também é verdadeiro. E, se não tentarmos cuidar melhor desses dois componentes que fazem nosso elo existencial com o mundo, então, estaremos nos condenando ao adoecimento crônico e martirizante. Afinal de contas, são as únicas instâncias nas quais é possível que os sintomas se manifestem. E, não se esqueça que, se estamos falando de sintomas, estamos falando de doenças, certo?
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Eu TENHO QUE o quê mesmo?

Resolvi escrever, hoje, sobre uma expressão que usamos quase que diariamente. É o famoso “Eu tenho que”. Eu tenho que isso, tenho que aquilo, tenho que fazer aquilo outro. A lista é interminável. Cheguei a me perguntar de onde veio essa expressão, mas, confesso, não parei pra pesquisar. Penso que deva ter alguma coisa relacionada com tantas e tantas obrigações que o ser humano foi adquirindo ao longo de sua existência. E, o mais curioso de tudo, para mim, é que essa pequena expressão tomou conta do vocabulário cotidiano de tal forma, que a utilizamos mesmo quando a inexistência de obrigação se faz nítida. Por exemplo: eu tenho que ir à casa de um amigo; eu tenho que lavar o carro; alguns chegam, até mesmo, ao ponto de dizer: eu tenho que ir a um aniversário hoje. Puxa, será que ir à casa de um amigo, ou deixar o carro limpinho para um passeio ou, pasme, amigo (a) leitor, ir a uma festa de aniversário, transformou-se em obrigação? Veja bem: já parou pra perceber que, quanto mais falamos eu tenho que, menos falamos eu quero, eu desejo, eu escolho? Outra situação: você era amigo (a) de uma pessoa e, por algo muito grave que ela fez, você resolve romper a amizade. Depois de um tempo você acha que tem que retomar a relação. Tem mesmo? Porque? O perdão se torna uma obrigação? Se é obrigação, corre-se o risco de não ser de coração, porque onde tem obrigação, a possibilidade de escolha fica comprometida. Pode parecer que você esteja achando bobagem essa discussão gramatical. Mas, atente, porque, por detrás dela, se esconde algo muito perigoso. Estamos transformando situações de lazer ou, pior ainda, situações em que temos total condição de escolher, em algo que é praticamente sem escolha. Ou seja, uma obrigação. Pensemos numa situação de diversão. Você foi convidado para uma festa de aniversário e não deseja ir. Imediatamente você pode pensar: eu tenho que ir a esse aniversário, senão... Será que você realmente tem que? Será que você não é uma pessoa livre para escolher e, caso não deseje ir, arcar com as conseqüências, sejam elas quais forem? Será que já não basta ter que acordar cedo, ter que trabalhar para sobreviver, ter que pagar contas, ter que se submeter, tantas vezes, a leis injustas por não ter opção? Portanto, é bom deixar o “eu tenho que”, realmente, para situações de obrigação. Que tal substituí-la pelo “eu quero”, “eu desejo”, “eu escolho”? Penso que, desta forma, deixamos de ser um pouco esses “robôs programados” para executar uma lista infindável de obrigações.

Um abraço fraterno,
Douglas Amorim

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Só o amor sustenta uma relação?

No texto de hoje, gostaria de discutir um pouco sobre a dificuldade que algumas pessoas têm em finalizar relacionamentos afetivos. A própria palavra “afetivos”, já indica, por si só, a complexidade da coisa. Afinal de contas, como terminar uma relação gostando da pessoa? Acontece que, culturalmente, muitas vezes, somos influenciados a acreditar que, caso exista amor, tudo está resolvido. Ledo engano. O amor é um ingrediente muito importante na relação; porém, está muito longe de ser o único. Escuto muitas pessoas dizerem acerca de seus sofrimentos, seja com um (a) namorado (a), marido ou esposa. Ama-se, porém, muitas divergências – às vezes severas – acabam por envenenar pouco a pouco algo que, outrora, parecia harmonioso. É claro que todas as pessoas têm suas peculiaridades, particularidades. Agora, é fato também, que, quando a conciliação dessas particularidades torna-se impossível, a relação precisa ser revista. Cada psicólogo, em seu trabalho diário, tem uma orientação clínica. A minha é a de prezar sempre pela conciliação, até o ponto em que a mesma seja Possível. É isso mesmo. Possível, com “P” maiúsculo. Digo isso porque, quando as divergências tornam-se insuportavelmente acirradas, mesmo havendo amor, existem apenas dois caminhos, no meu modo de entender: ou a relação permanece adoecida, quase sempre com um se subjugando em relação ao outro, ou então, a separação, o término. E, por incrível que pareça, é extremamente possível você amar uma pessoa e, por questões de divergências sérias, chegar à conclusão de que a permanência da relação tornou-se inviável. Não pretendo aqui fazer a apologia do “casa ou separa”. O que pretendo é chamar a atenção do leitor para situações que podem tornar-se simplesmente insolúveis. A partir de então, o que seria preferível? Adoecer pelo resto da vida ou tentar buscar outro caminho, mais saudável, livre e honesto? Repito: não estou fazendo a apologia do “casa ou separa”. Muito menos, entrando no terreno da religião do tipo “até que a morte os separe”. Apenas ofereço uma leitura feita pelo prisma da Psicologia, através do qual, já perdi as contas de quantas pessoas optaram por adoecer perpetuamente e outras tantas, apesar das dificuldades e sofrimentos, escolheram por arriscar a buscar a felicidade de outra forma. Lembre-se da música: “Cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz”.

Um abraço fraterno,

Douglas Amorim

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Repetições de comportamento

Ontem à noite, na companhia de agradáveis amigos, tive um lampejo para escrever um artigo. Desta vez, desejo falar, ainda que brevemente, sobre a repetição dos comportamentos das pessoas. Ao longo desses anos de clínica diária, no consultório, estou cada vez mais convencido do que o próprio Freud* já havia falado. As pessoas têm uma tendência muito forte de repetir comportamentos. A grande dificuldade em sair desse ciclo de repetições depende da capacidade de cada um fazer o quê, em Psicologia, chamamos de elaborar. Em linhas gerais, elaborar significa fazer uma revisão interna de pensamentos, sentimentos e condutas, identificar em quais pontos está sendo falho, incompetente ou, mesmo, doente, estabelecer a auto-crítica e fazer um acordo consigo mesmo para mudar. A tarefa não é fácil; o convite à repetição é quase irresistível, ainda que, na maioria das vezes, seja inconsciente. Às vezes escuto uma pessoa dizer que foi mandada embora do emprego pela quarta vez. Quando investigo, percebo que todas foram da mesma forma, em virtude de um mesmo comportamento. Pessoas que vão à falência pela terceira vez; não dá outra: repetiu tudo igualzinho, todas as vezes. Brigas com pessoas próximas: hora com um amigo, hora com outro. Repetição, novamente. Uma pessoa que se frustra constantemente nos relacionamentos íntimos, pode verificar: há algo que ela repete. O duro é identificar os erros, ter humildade para aceitá-los e disposição para mudar. Aí, podemos falar que, quase sempre com esforço, ocorre a elaboração e, não mais, a repetição. Pode até ser que a pessoa volte a errar. No entanto, por novos erros e não simplesmente, por repetir. É aí que a pessoa cresce, amadurece e reinventa constantemente a sua própria história. Portanto, muita atenção às repetições!

* Um texto de Freud, que colabora com a leitura deste breve artigo é o “Recordar, Repetir e Elaborar”.

Um abraço fraterno,

Douglas Amorim

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Excesso de cobrança envenena as relações

O tema dessa semana é, de certa forma, um pouco espinhoso. Quando podemos cobrar as coisas, principalmente de pessoas próximas, do ponto de vista afetivo? Em última análise, refiro-me a mãe, pai, filhos (as), irmãos (ãs), marido, esposa, namorado (a) e, porque não, pacientes. A idéia central é refletir sobre o quanto cobramos destas pessoas, sem que, muitas vezes, elas tenham condições de nos dar o que desejamos. Assim, tornamo-nos algozes dos outros, além de não conseguirmos atingir o nosso objetivo. Veja só: como cobrar de uma pessoa a leitura de um livro se ela sequer foi alfabetizada? Pois é assim que ocorre frequentemente nas relações com as pessoas que nos são mais caras. É com elas que acontece grande parte de nossos conflitos do dia a dia, isso, por motivos óbvios. Pensemos na física: quanto maior a superfície de contato, maior o atrito. É exatamente dessa forma que ocorre em termos psicológicos. E, um dos atritos mais constantes, é a cobrança. Como cobrar de alguém, algo que ele não tem para dar? Realmente, o assunto é complexo. E, por esse motivo, vou citar um pensamento de Charles Chaplin que me fez refletir e produzir o artigo de hoje: "Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo. Hoje sei que o nome disso é... Respeito". Fiz questão de destacar o fato de não ser o momento, ou da pessoa não estar preparada porque, pode ser, que nunca o esteja; que o momento nunca chegue. Dessa maneira, começamos a entender que o outro tem limitações tanto quanto nós. E o que Chaplin intitulou como respeito, serve nas duas direções: uma, na de não exigir descabidamente que a outra pessoa dê conta de determinadas coisas; outra que, a partir desta consciência, não há desgaste e nem se irritação com as limitações do outro. É um raciocínio preventivo. Quanto mais íntima for a outra pessoa, maior a possibilidade de saber até onde ela consegue ir. Se o seu desejo suplantar a capacidade dela, o ideal é procurar outra via para realizá-lo.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Qual a receita correta após o término de uma relação?

O título deste artigo é uma pergunta frequentemente presente em meu trabalho. Diariamente, em minha prática clínica, deparo-me com pessoas recém saídas de uma relação, muitas vezes, perdidas. Se ela era de longa data, então, nem se fala. Também vejo, pasmo, as mais variadas "receitas" proferidas por amigos e familiares. Escuta-se de tudo: agora é hora de você cair na gandaia, agora é hora de arrumar outra pessoa para substituir a antiga, agora é hora de procurar um psiquiatra para tomar remédios e não ficar triste, agora é hora de de não ficar em casa de jeito nenhum, agora é hora de fazer uma longa viagem para se desconectar e esquecer de tudo e de todos, agora não é hora de se envolver, não se pode namorar imediatamente após o término de uma relação etc... Pode ter certeza de que existem mais "conselhos" ainda. Entretanto, não vou me ater a isso. Até entendo que amigos e parentes, por terem um envolvimento afetivo com a pessoa recém-terminada, tentam ajudar da melhor maneira possível. E isso, na nossa cultura, quase sempre vem em forma de conselho, de receita. Também percebo que as pessoas nessas situações recorrem a mim desejando o mesmo; ou seja, querem saber caminho correto a ser seguido. Descobri, tanto por experiências pessoais quanto por constatações clínicas, que o caminho certo não existe. Inclusive, porque já vi todos os conselhos descritos acima dando certo para uns (umas) e errado para outros (as). Aprendi que não existe uma receita do ponto de vista objetivo: fazer isso ou aquilo. Agora, em termos subjetivos, descobri que existe uma que vale a pena e que, frequentemente, dá certo. Chama-se auto-respeito. Em útima análise, o que estou tentando dizer com isso é que, objetivamente, não existe o certo. Existe o saudável. Se você está passando por um momento como este e quiser sair, saia. Quer paquerar, paquere. Quer ficar dentro de casa um pouco mais recolhido, fique, pelo tempo que achar necessário. Se sair, conhecer alguém legal e quiser investir, invista (desde que esteja claro que não é por carência e nem pelo medo de ficar sozinho [a]). Respeitando o seu desejo e agindo de acordo com ele, sem forçar a barra para fazer o que as pessoas dizem que é o correto, é bem provável que você supere essa fase com mais tranquilidade.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Medo - Ter ou não ter?

O assunto medo é tema recorrente aqui no consultório. Ele aparece nas mais variadas formas. Medo de apresentar trabalhos em público, medo de provas, medo andar de carro, medo de errar, medo de arriscar... Em sua versão mais intensa o medo se transforma em fobia. De acordo com o DSM-IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - Na fobia "o indivíduo experimenta um medo acentuado, persistente e excessivo ou irracional na presença ou previsão do encontro com determinado objeto ou situação". O medo pode tornar-se tão forte em determinadas circunstâncias, que sintomas físicos muito desagradáveis podem surgir, tais como palpitações cardíacas, tremores, sudorese, desconfortos abdominais, entre outros. Geralmente eles surgem no momento em que a pessoa entra em contato com a situação ou objeto que causem medo. E agora? Como lidar com isso? Pelo que tenho acompanhado aqui na minha prática clínica, as pessoas fazem o inverso do que eu acredito ser o mais saudável. Elas simplesmente querem parar de ter medo. Querem comandar o sentimento. Ao que tudo indica, querer mandar nesse sentimento não funciona muito bem. Eu tenho sugerido outras vias que têm dado certo, pelo menos para grande parte das pessoas. Para exemplificar, vou citar um caso que atendi certa vez, alterando o nome, é claro. Fernanda era uma estudante universitária que tinha uma enorme dificuldade de apresentar trabalhos para os colegas. Ou seja, na situação citada, ela desencadeava todos os sintomas físicos descritos acima, além de sentir forte ansiedade. A minha sugestão foi simples: não querer deixar de ter medo. Expliquei para ela que o medo é um sentimento normal perante certas circunstâncias. Situações de avaliação são bons exemplos. A idéia, portanto, não seria deixar te ter medo, mas, sim, tentar fazer a coisa apesar do medo. É já saber que ficará com medo e que irá "partir pra cima", mesmo já tendo a certeza de sua ocorrência. Com isso, o medo passou a não mais ser um "intruso na festa", mas alguém "convidado". Em outras palavras, alguém esperado. Sendo assim, não haveria surpresas. Mas como fazer isso, morrendo de medo? Aí veio a segunda sugestão: prepare bem a sua apresentação. Faça as lâminas de power point, escreva resumos sobre o que estudou, monte esquemas e ensaie em casa. Mas não se esqueça: você sentirá medo na hora H... E assim foi feito. Segundo minha paciente, os primeiros dez minutos foram caóticos. Medo, voz trêmula, corpo amolecendo etc. Após esse tempo, a coisa foi melhorando e simplesmente sumiu. A apresentação transcorreu normalmente. Depois disso, ela foi repetindo a experiência várias vezes. O resultado final é que hoje em dia ela "briga" com as colegas para apresentar os trabalhos, porque acha que elas não são boas nisso. Claro que para que isso tudo tenha funcionado dessa forma, acima de tudo, esteve a sua vontade de enfrentar, vencer e repetir essa conduta nas situações consideradas difíceis. Ela conseguiu, e hoje, em outros desafios que aparecem em sua vida, já conta com a presença do medo como algo certo de acontecer. Desse modo, ele tornou-se menor e mais fraco. Portanto, penso que a idéia principal seja essa: não entrar numa perspectiva de querer simplesmente parar de sentir medo, mas, sim, enfrentar as dificuldades, apesar do medo.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim

sábado, 10 de janeiro de 2009

Felicidade Realista

Hoje, dia 10 de Janeiro de 2009, dei uma entrevista para a Rádio CBN, filiada da Rede Globo em Belo Horizonte, com a simpática e perspicaz repórter, Fabiana Arreguy. Prometi a ela e aos amigos da CBN, dispnobilizar em meu blog, o texto Felicidade Realista, de autoria de Mário Quintana. Espero que a leitura ajude a todos!
FELICIDADE REALISTA
Por: Martha Medeiros*

A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacotelouvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, sermagérrimos, sarados, irresistíveis.Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema:queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor.. não basta termos alguém com quem podemosconversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensarpequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmenteapaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentesinesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremossexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É oque dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Vocêpode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com umparceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quandose trata de amor-próprio.Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para sesentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda,buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé eum pouco de criatividade. Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato,amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza,instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo ondesó quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuasdesta tal competitividade.Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com asregras, demita-se.Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça de que afelicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la irembora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e nãosentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração.Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade...


Um abraço fraterno,

Douglas Amorim

* Há tempos este texto circula na internet, como sendo de autoria de Mário Quintana. Após pesquisa minuciosa, descobri que o mesmo se trata de autoria da gaúcha Martha Medeiros. Fica o registro para todos os apreciadores dos bons textos.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Tome posse do seu plano de vida

Acabo de concluir a leitura do livro “Quando Nietzsche Chorou”, de autoria de Irvin D. Yalom. Penso que muitos pontos poderiam ser discutidos acerca desta obra. Entretanto, nada mais me chamou a atenção do que seus pensamentos acerca de desejo, liberdade e escolhas. Em uma das discussões entre Josef Breuer (médico) e Nietzsche (filósofo), este último disse: “Não tomar posse de seu plano de vida é deixar sua existência ser um mero acidente”. É exatamente a partir desta frase, tentando relacioná-la com a tríade desejo-liberdade-escolhas, que gostaria de tecer uma pequena reflexão. Sabemos que, a cada dia que passa, a vida contemporânea oferece aos seres humanos mais e mais informações. A todo o momento, transmite-se (principalmente através da mídia), uma falsa sensação para as pessoas, de que existe uma série de caminhos para serem escolhidos, na busca da felicidade. Acredito que ela seja falsa porque, em linhas gerais, não dá, no fundo, opções de escolha. Várias academias, dietas, modelos de carro, cursos, modelos de roupa etc. Entretanto, apregoam que você tem de ser magro (a), você tem de ter um carro zero km, você tem de fazer tal curso, você tem de se vestir de tal forma e por aí vai... Será que escolhemos as coisas por nossa vontade, ou por força de uma cultura externa a nós? Será que estamos realmente livres ou, cada vez mais, reféns do que uma minoria pensa? Será que vivemos o nosso desejo, ou o desejo de alguns poucos que, sutilmente, escolhem por nós, para nós? Vivemos em uma era na qual estamos cada vez mais sendo escolhidos pelas situações, do que sendo escolhedores delas. Apesar disso, ainda podemos ser escolhedores de algumas coisas em nossa existência. As pessoas com que nos relacionamos, por exemplo e o que efetivamente queremos estudar são algumas delas. Se conseguirmos fazer essa crítica, “demitindo” de nossas vidas, pessoas que nos fazem mal, tentando uma, duas, três, ou sei lá quantas vezes, estudarmos algo que nos realize, já estaremos em um bom caminho. O que não dá, é, nas poucas vezes em que conseguimos ter autoridade sobre nosso desejo, abrirmos mão dele. Dessa forma, estaremos, de vez, assumindo, globalmente, um papel de marionetes na nossa própria existência. Assim, de acordo com Nietzsche, “sua existência passaria a ser um mero acidente”. E, cá entre nós, deixar a sua vida ser um acidente, é muito pouco, além de muito perigoso, certo? Portanto, tome posse do seu plano de vida, tome posse do seu desejo!
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim