segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Qual a receita correta após o término de uma relação?

O título deste artigo é uma pergunta frequentemente presente em meu trabalho. Diariamente, em minha prática clínica, deparo-me com pessoas recém saídas de uma relação, muitas vezes, perdidas. Se ela era de longa data, então, nem se fala. Também vejo, pasmo, as mais variadas "receitas" proferidas por amigos e familiares. Escuta-se de tudo: agora é hora de você cair na gandaia, agora é hora de arrumar outra pessoa para substituir a antiga, agora é hora de procurar um psiquiatra para tomar remédios e não ficar triste, agora é hora de de não ficar em casa de jeito nenhum, agora é hora de fazer uma longa viagem para se desconectar e esquecer de tudo e de todos, agora não é hora de se envolver, não se pode namorar imediatamente após o término de uma relação etc... Pode ter certeza de que existem mais "conselhos" ainda. Entretanto, não vou me ater a isso. Até entendo que amigos e parentes, por terem um envolvimento afetivo com a pessoa recém-terminada, tentam ajudar da melhor maneira possível. E isso, na nossa cultura, quase sempre vem em forma de conselho, de receita. Também percebo que as pessoas nessas situações recorrem a mim desejando o mesmo; ou seja, querem saber caminho correto a ser seguido. Descobri, tanto por experiências pessoais quanto por constatações clínicas, que o caminho certo não existe. Inclusive, porque já vi todos os conselhos descritos acima dando certo para uns (umas) e errado para outros (as). Aprendi que não existe uma receita do ponto de vista objetivo: fazer isso ou aquilo. Agora, em termos subjetivos, descobri que existe uma que vale a pena e que, frequentemente, dá certo. Chama-se auto-respeito. Em útima análise, o que estou tentando dizer com isso é que, objetivamente, não existe o certo. Existe o saudável. Se você está passando por um momento como este e quiser sair, saia. Quer paquerar, paquere. Quer ficar dentro de casa um pouco mais recolhido, fique, pelo tempo que achar necessário. Se sair, conhecer alguém legal e quiser investir, invista (desde que esteja claro que não é por carência e nem pelo medo de ficar sozinho [a]). Respeitando o seu desejo e agindo de acordo com ele, sem forçar a barra para fazer o que as pessoas dizem que é o correto, é bem provável que você supere essa fase com mais tranquilidade.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Medo - Ter ou não ter?

O assunto medo é tema recorrente aqui no consultório. Ele aparece nas mais variadas formas. Medo de apresentar trabalhos em público, medo de provas, medo andar de carro, medo de errar, medo de arriscar... Em sua versão mais intensa o medo se transforma em fobia. De acordo com o DSM-IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - Na fobia "o indivíduo experimenta um medo acentuado, persistente e excessivo ou irracional na presença ou previsão do encontro com determinado objeto ou situação". O medo pode tornar-se tão forte em determinadas circunstâncias, que sintomas físicos muito desagradáveis podem surgir, tais como palpitações cardíacas, tremores, sudorese, desconfortos abdominais, entre outros. Geralmente eles surgem no momento em que a pessoa entra em contato com a situação ou objeto que causem medo. E agora? Como lidar com isso? Pelo que tenho acompanhado aqui na minha prática clínica, as pessoas fazem o inverso do que eu acredito ser o mais saudável. Elas simplesmente querem parar de ter medo. Querem comandar o sentimento. Ao que tudo indica, querer mandar nesse sentimento não funciona muito bem. Eu tenho sugerido outras vias que têm dado certo, pelo menos para grande parte das pessoas. Para exemplificar, vou citar um caso que atendi certa vez, alterando o nome, é claro. Fernanda era uma estudante universitária que tinha uma enorme dificuldade de apresentar trabalhos para os colegas. Ou seja, na situação citada, ela desencadeava todos os sintomas físicos descritos acima, além de sentir forte ansiedade. A minha sugestão foi simples: não querer deixar de ter medo. Expliquei para ela que o medo é um sentimento normal perante certas circunstâncias. Situações de avaliação são bons exemplos. A idéia, portanto, não seria deixar te ter medo, mas, sim, tentar fazer a coisa apesar do medo. É já saber que ficará com medo e que irá "partir pra cima", mesmo já tendo a certeza de sua ocorrência. Com isso, o medo passou a não mais ser um "intruso na festa", mas alguém "convidado". Em outras palavras, alguém esperado. Sendo assim, não haveria surpresas. Mas como fazer isso, morrendo de medo? Aí veio a segunda sugestão: prepare bem a sua apresentação. Faça as lâminas de power point, escreva resumos sobre o que estudou, monte esquemas e ensaie em casa. Mas não se esqueça: você sentirá medo na hora H... E assim foi feito. Segundo minha paciente, os primeiros dez minutos foram caóticos. Medo, voz trêmula, corpo amolecendo etc. Após esse tempo, a coisa foi melhorando e simplesmente sumiu. A apresentação transcorreu normalmente. Depois disso, ela foi repetindo a experiência várias vezes. O resultado final é que hoje em dia ela "briga" com as colegas para apresentar os trabalhos, porque acha que elas não são boas nisso. Claro que para que isso tudo tenha funcionado dessa forma, acima de tudo, esteve a sua vontade de enfrentar, vencer e repetir essa conduta nas situações consideradas difíceis. Ela conseguiu, e hoje, em outros desafios que aparecem em sua vida, já conta com a presença do medo como algo certo de acontecer. Desse modo, ele tornou-se menor e mais fraco. Portanto, penso que a idéia principal seja essa: não entrar numa perspectiva de querer simplesmente parar de sentir medo, mas, sim, enfrentar as dificuldades, apesar do medo.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim

sábado, 10 de janeiro de 2009

Felicidade Realista

Hoje, dia 10 de Janeiro de 2009, dei uma entrevista para a Rádio CBN, filiada da Rede Globo em Belo Horizonte, com a simpática e perspicaz repórter, Fabiana Arreguy. Prometi a ela e aos amigos da CBN, dispnobilizar em meu blog, o texto Felicidade Realista, de autoria de Mário Quintana. Espero que a leitura ajude a todos!
FELICIDADE REALISTA
Por: Martha Medeiros*

A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacotelouvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, sermagérrimos, sarados, irresistíveis.Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema:queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor.. não basta termos alguém com quem podemosconversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensarpequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmenteapaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentesinesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremossexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É oque dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Vocêpode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com umparceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quandose trata de amor-próprio.Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para sesentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda,buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé eum pouco de criatividade. Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato,amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza,instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo ondesó quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuasdesta tal competitividade.Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com asregras, demita-se.Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça de que afelicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la irembora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e nãosentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração.Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade...


Um abraço fraterno,

Douglas Amorim

* Há tempos este texto circula na internet, como sendo de autoria de Mário Quintana. Após pesquisa minuciosa, descobri que o mesmo se trata de autoria da gaúcha Martha Medeiros. Fica o registro para todos os apreciadores dos bons textos.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Tome posse do seu plano de vida

Acabo de concluir a leitura do livro “Quando Nietzsche Chorou”, de autoria de Irvin D. Yalom. Penso que muitos pontos poderiam ser discutidos acerca desta obra. Entretanto, nada mais me chamou a atenção do que seus pensamentos acerca de desejo, liberdade e escolhas. Em uma das discussões entre Josef Breuer (médico) e Nietzsche (filósofo), este último disse: “Não tomar posse de seu plano de vida é deixar sua existência ser um mero acidente”. É exatamente a partir desta frase, tentando relacioná-la com a tríade desejo-liberdade-escolhas, que gostaria de tecer uma pequena reflexão. Sabemos que, a cada dia que passa, a vida contemporânea oferece aos seres humanos mais e mais informações. A todo o momento, transmite-se (principalmente através da mídia), uma falsa sensação para as pessoas, de que existe uma série de caminhos para serem escolhidos, na busca da felicidade. Acredito que ela seja falsa porque, em linhas gerais, não dá, no fundo, opções de escolha. Várias academias, dietas, modelos de carro, cursos, modelos de roupa etc. Entretanto, apregoam que você tem de ser magro (a), você tem de ter um carro zero km, você tem de fazer tal curso, você tem de se vestir de tal forma e por aí vai... Será que escolhemos as coisas por nossa vontade, ou por força de uma cultura externa a nós? Será que estamos realmente livres ou, cada vez mais, reféns do que uma minoria pensa? Será que vivemos o nosso desejo, ou o desejo de alguns poucos que, sutilmente, escolhem por nós, para nós? Vivemos em uma era na qual estamos cada vez mais sendo escolhidos pelas situações, do que sendo escolhedores delas. Apesar disso, ainda podemos ser escolhedores de algumas coisas em nossa existência. As pessoas com que nos relacionamos, por exemplo e o que efetivamente queremos estudar são algumas delas. Se conseguirmos fazer essa crítica, “demitindo” de nossas vidas, pessoas que nos fazem mal, tentando uma, duas, três, ou sei lá quantas vezes, estudarmos algo que nos realize, já estaremos em um bom caminho. O que não dá, é, nas poucas vezes em que conseguimos ter autoridade sobre nosso desejo, abrirmos mão dele. Dessa forma, estaremos, de vez, assumindo, globalmente, um papel de marionetes na nossa própria existência. Assim, de acordo com Nietzsche, “sua existência passaria a ser um mero acidente”. E, cá entre nós, deixar a sua vida ser um acidente, é muito pouco, além de muito perigoso, certo? Portanto, tome posse do seu plano de vida, tome posse do seu desejo!
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim