segunda-feira, 20 de abril de 2009

Repetições de comportamento

Ontem à noite, na companhia de agradáveis amigos, tive um lampejo para escrever um artigo. Desta vez, desejo falar, ainda que brevemente, sobre a repetição dos comportamentos das pessoas. Ao longo desses anos de clínica diária, no consultório, estou cada vez mais convencido do que o próprio Freud* já havia falado. As pessoas têm uma tendência muito forte de repetir comportamentos. A grande dificuldade em sair desse ciclo de repetições depende da capacidade de cada um fazer o quê, em Psicologia, chamamos de elaborar. Em linhas gerais, elaborar significa fazer uma revisão interna de pensamentos, sentimentos e condutas, identificar em quais pontos está sendo falho, incompetente ou, mesmo, doente, estabelecer a auto-crítica e fazer um acordo consigo mesmo para mudar. A tarefa não é fácil; o convite à repetição é quase irresistível, ainda que, na maioria das vezes, seja inconsciente. Às vezes escuto uma pessoa dizer que foi mandada embora do emprego pela quarta vez. Quando investigo, percebo que todas foram da mesma forma, em virtude de um mesmo comportamento. Pessoas que vão à falência pela terceira vez; não dá outra: repetiu tudo igualzinho, todas as vezes. Brigas com pessoas próximas: hora com um amigo, hora com outro. Repetição, novamente. Uma pessoa que se frustra constantemente nos relacionamentos íntimos, pode verificar: há algo que ela repete. O duro é identificar os erros, ter humildade para aceitá-los e disposição para mudar. Aí, podemos falar que, quase sempre com esforço, ocorre a elaboração e, não mais, a repetição. Pode até ser que a pessoa volte a errar. No entanto, por novos erros e não simplesmente, por repetir. É aí que a pessoa cresce, amadurece e reinventa constantemente a sua própria história. Portanto, muita atenção às repetições!

* Um texto de Freud, que colabora com a leitura deste breve artigo é o “Recordar, Repetir e Elaborar”.

Um abraço fraterno,

Douglas Amorim