segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Eu TENHO QUE o quê mesmo?

Resolvi escrever, hoje, sobre uma expressão que usamos quase que diariamente. É o famoso “Eu tenho que”. Eu tenho que isso, tenho que aquilo, tenho que fazer aquilo outro. A lista é interminável. Cheguei a me perguntar de onde veio essa expressão, mas, confesso, não parei pra pesquisar. Penso que deva ter alguma coisa relacionada com tantas e tantas obrigações que o ser humano foi adquirindo ao longo de sua existência. E, o mais curioso de tudo, para mim, é que essa pequena expressão tomou conta do vocabulário cotidiano de tal forma, que a utilizamos mesmo quando a inexistência de obrigação se faz nítida. Por exemplo: eu tenho que ir à casa de um amigo; eu tenho que lavar o carro; alguns chegam, até mesmo, ao ponto de dizer: eu tenho que ir a um aniversário hoje. Puxa, será que ir à casa de um amigo, ou deixar o carro limpinho para um passeio ou, pasme, amigo (a) leitor, ir a uma festa de aniversário, transformou-se em obrigação? Veja bem: já parou pra perceber que, quanto mais falamos eu tenho que, menos falamos eu quero, eu desejo, eu escolho? Outra situação: você era amigo (a) de uma pessoa e, por algo muito grave que ela fez, você resolve romper a amizade. Depois de um tempo você acha que tem que retomar a relação. Tem mesmo? Porque? O perdão se torna uma obrigação? Se é obrigação, corre-se o risco de não ser de coração, porque onde tem obrigação, a possibilidade de escolha fica comprometida. Pode parecer que você esteja achando bobagem essa discussão gramatical. Mas, atente, porque, por detrás dela, se esconde algo muito perigoso. Estamos transformando situações de lazer ou, pior ainda, situações em que temos total condição de escolher, em algo que é praticamente sem escolha. Ou seja, uma obrigação. Pensemos numa situação de diversão. Você foi convidado para uma festa de aniversário e não deseja ir. Imediatamente você pode pensar: eu tenho que ir a esse aniversário, senão... Será que você realmente tem que? Será que você não é uma pessoa livre para escolher e, caso não deseje ir, arcar com as conseqüências, sejam elas quais forem? Será que já não basta ter que acordar cedo, ter que trabalhar para sobreviver, ter que pagar contas, ter que se submeter, tantas vezes, a leis injustas por não ter opção? Portanto, é bom deixar o “eu tenho que”, realmente, para situações de obrigação. Que tal substituí-la pelo “eu quero”, “eu desejo”, “eu escolho”? Penso que, desta forma, deixamos de ser um pouco esses “robôs programados” para executar uma lista infindável de obrigações.

Um abraço fraterno,
Douglas Amorim