sexta-feira, 21 de março de 2014

Sobre o "Politicamente Correto" - Por Douglas Amorim

Ando achando a sociedade brasileira muito melindrosa. Em parte, penso que isso seja influência direta dos meios de comunicação ao propalar, aos quatro ventos, o que vem sendo dito pelos mais variados tipos de pessoas, passando por políticos, defensores dos direitos humanos, ambientalistas e alguns pensadores. Tudo hoje tornou-se ofensa. Se uma pessoa te atende mal em um restaurante, por exemplo, e você achar ruim e protestar contra essa pessoa, isso é politicamente incorreto.

Se por acaso for negro, sua indignação com o atendimento ruim pode passar quase a ser interpretado como racismo. Se você diz que não gosta de flanelinhas que, na quase totalidade das vezes, cometem crime de extorsão, dirão que você é preconceituoso com o pobre que está ali, te cobrando pra que você possa utilizar o espaço público. E dirão ainda que você está equivocado porque o flanelinha é um produto da sociedade. Não. Não é simples assim. Muitas pessoas vieram de berços humildes e, por meio de estudo e trabalho honesto, venceram na vida. Exemplos assim, não faltam.
Se eventualmente você dá uma palmada no seu filho, é quase condenado à masmorra porque, afinal de contas, não se bate em criança. Se palmada não funcionasse em determinados momentos, nossas avós e bisavós estariam enganadas durante todos esses anos? Com algumas palmadas chegamos a aprender algum limite, sim. Logicamente, antes que me acusem de ser defensor da violência, digo que não se trata de espancamento, certo?

O ecologicamente correto então, este, tornou-se insuportável. É claro que devemos preservar o meio ambiente para nós e para as gerações futuras. Mas daí a te multar caso você bata o carro na árvore ou proibir supermercados de fornecerem sacolas plásticas, com a justificativa do político-ecologicamente correto é demais pra mim. É fazer dinheiro em cima de desculpas esfarrapadas. Bater o carro numa árvore pode ser um acidente, ora. O motorista não teve a intenção de destruir a natureza. Quanto à sacola plástica, basta termos educação na escola sobre como usá-las e não simplesmente proibi-las. Os empresários supermercadistas agradecem.
O tanto de radares instalados a cada dia que passa se torna uma fábrica de dinheiro para governos do país inteiro. A justificativa politicamente correta, é claro, radares em defesa da vida! É lógico que precisamos valorizar e defender a vida, mas, onde estão disciplinas como educação no trânsito nas escolas, sobretudo nas públicas? Essa não tem. Pela via da multa é mais cômodo e rende mais dinheiro, obviamente.

Desarmaram o cidadão de bem. Com o crescimento da violência, com casas arrombadas, assaltadas, filhas e esposas estupradas, ter um revólver em casa é praticamente um pecado. Precisamos é de esperar a polícia que, via de regra, demora horas para atender a um chamado. Não defendo cidadãos andarem armados nas ruas, mas, e dentro da própria casa? Melhor não. Não é politicamente correto. O correto é ser assaltado, agredido e estuprado.  
 Ir de carro para o trabalho não é politicamente correto. O correto é usar o transporte público. É irmos de metrô. Tá, tudo bem. O metrô em Belo Horizonte é uma piada de mau gosto, mas, o politicamente correto é deixarmos o carro em casa e irmos num ônibus lotado, desconfortável, que demora horas no trajeto. Ah, já ia me esquecendo! Podemos utilizar as ciclovias também. Como nossa cidade quase não tem aclives, não chegaremos exaustos e molhados de suor ao trabalho, certo? Errado. Basta me falar como ir de bicicleta da Pampulha até o centro da cidade todos os dias, por exemplo.
 Por fim, as novas terminologias. Favela agora se chama aglomerado. Velhice virou melhor idade. Empregado transformou-se em funcionário e, hoje em dia, é colaborador. Belas palavras para realidades que não mudaram muito no meu entender. Os moradores dos aglomerados continuam com seus sofrimentos, os idosos são abandonados pelo governo com aposentadorias miseráveis e o colaborador, continua sendo muitas vezes, explorado por empresas que não os valorizam com se deveria.
 É claro que nossa sociedade precisa amadurecer, sabendo conviver naturalmente com negros, homossexuais e seja lá quem for. É claro que precisamos defender direitos humanos para que não caiamos na barbárie. Mas, isso não pode servir como argumentação para que outros interesses, absolutamente escusos e injustos, fiquem encobertos pela máscara do “politicamente correto” e disseminados como obrigatórios e corretos para todos nós.
 
Um abraço fraterno,
 
Douglas Amorim