segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Medo - Ter ou não ter?

O assunto medo é tema recorrente aqui no consultório. Ele aparece nas mais variadas formas. Medo de apresentar trabalhos em público, medo de provas, medo andar de carro, medo de errar, medo de arriscar... Em sua versão mais intensa o medo se transforma em fobia. De acordo com o DSM-IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - Na fobia "o indivíduo experimenta um medo acentuado, persistente e excessivo ou irracional na presença ou previsão do encontro com determinado objeto ou situação". O medo pode tornar-se tão forte em determinadas circunstâncias, que sintomas físicos muito desagradáveis podem surgir, tais como palpitações cardíacas, tremores, sudorese, desconfortos abdominais, entre outros. Geralmente eles surgem no momento em que a pessoa entra em contato com a situação ou objeto que causem medo. E agora? Como lidar com isso? Pelo que tenho acompanhado aqui na minha prática clínica, as pessoas fazem o inverso do que eu acredito ser o mais saudável. Elas simplesmente querem parar de ter medo. Querem comandar o sentimento. Ao que tudo indica, querer mandar nesse sentimento não funciona muito bem. Eu tenho sugerido outras vias que têm dado certo, pelo menos para grande parte das pessoas. Para exemplificar, vou citar um caso que atendi certa vez, alterando o nome, é claro. Fernanda era uma estudante universitária que tinha uma enorme dificuldade de apresentar trabalhos para os colegas. Ou seja, na situação citada, ela desencadeava todos os sintomas físicos descritos acima, além de sentir forte ansiedade. A minha sugestão foi simples: não querer deixar de ter medo. Expliquei para ela que o medo é um sentimento normal perante certas circunstâncias. Situações de avaliação são bons exemplos. A idéia, portanto, não seria deixar te ter medo, mas, sim, tentar fazer a coisa apesar do medo. É já saber que ficará com medo e que irá "partir pra cima", mesmo já tendo a certeza de sua ocorrência. Com isso, o medo passou a não mais ser um "intruso na festa", mas alguém "convidado". Em outras palavras, alguém esperado. Sendo assim, não haveria surpresas. Mas como fazer isso, morrendo de medo? Aí veio a segunda sugestão: prepare bem a sua apresentação. Faça as lâminas de power point, escreva resumos sobre o que estudou, monte esquemas e ensaie em casa. Mas não se esqueça: você sentirá medo na hora H... E assim foi feito. Segundo minha paciente, os primeiros dez minutos foram caóticos. Medo, voz trêmula, corpo amolecendo etc. Após esse tempo, a coisa foi melhorando e simplesmente sumiu. A apresentação transcorreu normalmente. Depois disso, ela foi repetindo a experiência várias vezes. O resultado final é que hoje em dia ela "briga" com as colegas para apresentar os trabalhos, porque acha que elas não são boas nisso. Claro que para que isso tudo tenha funcionado dessa forma, acima de tudo, esteve a sua vontade de enfrentar, vencer e repetir essa conduta nas situações consideradas difíceis. Ela conseguiu, e hoje, em outros desafios que aparecem em sua vida, já conta com a presença do medo como algo certo de acontecer. Desse modo, ele tornou-se menor e mais fraco. Portanto, penso que a idéia principal seja essa: não entrar numa perspectiva de querer simplesmente parar de sentir medo, mas, sim, enfrentar as dificuldades, apesar do medo.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim