terça-feira, 26 de agosto de 2014

Análise psicológica dos jingles de Dilma Rousseff e Aécio Neves - Por Douglas Amorim

Faço logo abaixo, uma breve análise comparativa dos jingles de Dilma Rousseff e Aécio Neves para Presidente da República. Os links com ambas as letras serão postados e, logo em sequência, direi o que penso sob o aspecto psicológico dessas melodias para uma eleição presidencial. De antemão, quero deixar claro que não se trata de preferências políticas e/ou partidárias. Eu penso que o aspecto psicológico sempre precisa andar de mãos dadas com o marketing, seja ele qual for e para qualquer objetivo. Portanto, quem quiser comentar ESPECIFICAMENTE sobre esses jingles, será bem-vindo (a).

http://psdb-mg.org.br/agencia-de-noticias/material-de-campanha
https://www.pt.org.br/radio-pt/

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O autor do jingle de Dilma foi muito hábil ao escolher o título e a expressão “Coração Valente”, como tema central da música. Primeiramente porque o brasileiro é um povo muito emocional, afetuoso por natureza. Gostamos de receber as pessoas, nos cumprimentamos com beijos e abraços, valorizamos amor entre pais, filhos, cônjuges, irmãos, amigos, o amor a Deus etc. O coração simboliza tudo isso. Fora isso, é um dos principais órgãos do nosso corpo, além de ser expressão quase universal do amor. A outra palavra – “Valente” – simboliza um outro forte fator emocional. Valentia é sinônimo de coragem; uma das grandes virtudes que uma pessoa pode ter. Quando falamos que o brasileiro é um povo guerreiro, estamos dizendo de sua coragem, da valentia ao enfrentar as dificuldades. E isso é representativo de força. Soa bem aos ouvidos. 

A junção dessas palavras não poderia ter sido mais feliz. As expressões “garra”, “força brasileira” e “nada nos segura” passam a imagem de que podemos ter certeza de nossos potenciais para seguirmos em frente. O caráter maternal, altamente valorizado emocionalmente por nossa sociedade, também está presente, quando fala que Dilma “não desviou o olhar do sofrimento do povo”, tal qual, uma mãe atenciosa nunca tira os olhos de seus filhos. Menciona o ex-presidente Lula, que não poderia ter ficado de fora, por motivos óbvios, mas, apenas em uma pequena passagem, para relembrar que eles continuam trabalhando juntos. Ao falar sobre esperança, toca-se mais uma vez em um sentimento forte, acenando um futuro ainda melhor. E, o que avaliza essa esperança, é o fato de a mesma ser conduzida por uma “mulher de mãos limpas”, “de mãos livres” e “mãos firmes”. 

Em outras palavras, está se falando de honestidade, liberdade e firmeza. Ou seja, mais sentimentos valorizados socialmente pelo brasileiro. E, por fim, tome mais sentimentos: afirma-se que o que não está bom irá ser melhorado. Em suma, reconhece-se que houve erros e que não foi bom, será melhorado. O nome desse sentimento é humildade. O nome de Dilma foi pronunciado em quatro oportunidades e a expressão “coração valente”, em cinco.

Portanto, se fizermos as contas, falou-se de: amor, coragem, honestidade, firmeza, liberdade, esperança, confiança, atenção e humildade. Ou seja, NOVE SENTIMENTOS em cento e trinta e nove palavras (contando-se as repetições), em dois minutos e dez segundos. Ou seja, mais contundente do ponto emocional, impossível. O nome da candidata foi repetido em quatro oportunidades. Sei que jingle não ganha eleição, mas, que ajuda, ajuda... Basta lembrarmos do famoso “Lula lá”... Fora isso, o ritmo, um xotezinho, remete ao nordeste brasileiro, onde a candidata é mais forte e, não é uma melodia desagradável ou agressiva aos ouvidos.

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O PSDB possui três jingles diferentes – encontrados no site do partido - , o que, na minha opinião, já enfraquece muito a fixação das músicas na mente do eleitor. Penso que fixar uma música apenas, ao invés de três, seja mais fácil para o cérebro. Foi escolhido um deles para análise, em virtude do seu tempo de duração, que é praticamente o mesmo do jingle de Dilma Rousseff. Dois minutos e três segundos contra dois minutos e dez segundos, da petista. No jingle de Aécio, a palavra bem-vindo foi repetida nada mais do que dezoito vezes em cento e cinquenta palavras (contando-se as repetições), que o jingle possui ao todo. Ou seja, mais de dez por cento da música são compostos pela expressão bem-vindo. Hora dando as boas vindas para Aécio, hora dando boas vindas a quem quiser se aproximar. 

A melodia fala de união - Um novo Brasil se unindo - , da esperança de um novo tempo chegar, de alegria com um brilho em cada olhar. Ressalta também o aspecto guerreiro do povo brasileiro, destacando que “a força de nossa gente, ninguém consegue parar”. O jingle, na minha opinião é, acima de tudo um CONVITE. Convida a todos “daqui, de lá, de onde for”, tanto os que sentiram firmeza, quanto os que não os que ainda não têm certeza. Ao falar de “nó no peito”, o sentimento que mais se aproxima da referida expressão é angústia. É como se o brasileiro vivesse angustiado e que, se quiser, pode chegar perto de Aécio, que será bem recebido. O nome do candidato é repetido em quatro oportunidades, sempre antecedido pela expressão “aé”. Apesar de toda a repetição da palavra “bem-vindo”, achei o jingle fraco. 

Creio que essa expressão não seja tão forte quanto a expressão “Coração Valente”, na melodia da Dilma Rousseff. Os sentimentos que consegui identificar na música foram CINCO: união, esperança, alegria, coragem e angústia. O apelo sentimental é muito menor do que o da candidata do PT. O jingle do Aécio, trata de um convite, como já foi mencionado, e, no da petista, o aspecto central é a descrição da personalidade da candidata. 

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Como o eleitor brasileiro é muito identificado com o candidato, penso que um jingle que fale mais da personalidade do candidato, tenha mais apelo popular. Aécio tem outros jingles que mencionam suas características e currículo político. No entanto, volto a dizer: ele utiliza três jingles diferentes, o que enfraquece a fixação de letras e refrões. Fora isso, a música analisada apresenta versões em ritmos diferentes como samba, forró etc. Ao analisarmos as propagandas do PT da televisão, principalmente com relação “aos invisíveis”, nota-se que, realmente, o jingle tem tudo a ver com essas inserções. O apelo sentimental é muito mais forte do que o do PSDB que foca mais nas questões voltadas para o racional – sobretudo no que diz respeito à eficiência de gestão – do que qualquer outro aspecto. Marina Silva vem aí, também embalada pelo componente emocional, principalmente após a morte de Eduardo Campos. 

Na minha opinião, desde a primeira eleição do ex-presidente Lula, o discurso emocional convence e atrai muito mais o eleitor brasileiro. E, creio que nessas eleições, não será diferente. Se o eleitor irá mudar esse perfil, somente o futuro irá nos dizer. Para essas eleições, sinceramente, não acredito. O jingle de Dilma marca mais presença, mesmo com a expressão “coração valente” sendo repetida apenas cinco vezes, contra dezoito da expressão bem-vindo do candidato tucano, considerando-se a emotividade do brasileiro.
 
Um abraço fraterno,
 
Douglas Amorim