Carl Rogers foi o pai de uma
linha de abordagem da Psicologia chamada Psicoterapia Centrada no Cliente. Um dos
conceitos trabalhados por ele foi a “empatia”. Em termos muito sucintos, essa
empatia significa tentar se colocar no lugar do outro, para entender como ele
vê e sente o mundo. No entanto, por mais que eu me esforce, penso que existam
situações que, por mais que me esforce, acredito que nunca conseguirei fazê-lo.
Ontem, assistindo a um jogo do Cruzeiro (sou atleticano), na Copa Libertadores
da América, assisti a uma cena que me deixou estarrecido. O jogador Tinga foi
extremamente hostilizado pelos torcedores do time da casa – o jogo aconteceu no
Peru – com ofensas racistas. A cada vez que ele pegava na bola, boa parte do
estádio imitava sons de macaco. Eu não acreditava no que estava assistindo. Mas
era isso mesmo. Milhares de torcedores fazendo esse som. E me perguntei: se o
esporte serve justamente pra integrar os povos, o que esses torcedores estavam
fazendo? Justamente o contrário. Muita coisa no mundo está de cabeça pra baixo
e isso me preocupa. Felizmente, ao término do jogo, assisti a uma declaração do
próprio Tinga, sobre o ocorrido. Essa declaração me emocionou e, confesso, foi
uma das mais lúcidas que já vi num esportista: “eu trocaria todos os títulos da
minha carreira (e olha que ele já ganhou muita coisa), pelo fim do preconceito,
do racismo, da discriminação de classes”. Nessa hora, tentei me colocar no
lugar dele. Tentei enxergar o mundo e sentir o que ele sentiu naquele momento. Carl
Rogers que me desculpe. Não consegui. Somente uma pessoa de pele negra pode
sentir o que ele sentiu naquela hora. Séculos de discriminação, de violência
e que se mostra ainda presente em pleno século XXI. Esse sentimento, quem é
branco, nunca irá entender. O máximo que conseguimos saber/sentir é que deve
ser muito ruim. E deve doer muito. Principalmente na alma. Tinga, ontem você
marcou um golaço. Parabéns pela declaração e desconsidere essa parte atrasada da
humanidade.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim