quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

RACISMO E FUTEBOL - EPISÓDIO DO JOGO DE ONTEM

Carl Rogers foi o pai de uma linha de abordagem da Psicologia chamada Psicoterapia Centrada no Cliente. Um dos conceitos trabalhados por ele foi a “empatia”. Em termos muito sucintos, essa empatia significa tentar se colocar no lugar do outro, para entender como ele vê e sente o mundo. No entanto, por mais que eu me esforce, penso que existam situações que, por mais que me esforce, acredito que nunca conseguirei fazê-lo. Ontem, assistindo a um jogo do Cruzeiro (sou atleticano), na Copa Libertadores da América, assisti a uma cena que me deixou estarrecido. O jogador Tinga foi extremamente hostilizado pelos torcedores do time da casa – o jogo aconteceu no Peru – com ofensas racistas. A cada vez que ele pegava na bola, boa parte do estádio imitava sons de macaco. Eu não acreditava no que estava assistindo. Mas era isso mesmo. Milhares de torcedores fazendo esse som. E me perguntei: se o esporte serve justamente pra integrar os povos, o que esses torcedores estavam fazendo? Justamente o contrário. Muita coisa no mundo está de cabeça pra baixo e isso me preocupa. Felizmente, ao término do jogo, assisti a uma declaração do próprio Tinga, sobre o ocorrido. Essa declaração me emocionou e, confesso, foi uma das mais lúcidas que já vi num esportista: “eu trocaria todos os títulos da minha carreira (e olha que ele já ganhou muita coisa), pelo fim do preconceito, do racismo, da discriminação de classes”. Nessa hora, tentei me colocar no lugar dele. Tentei enxergar o mundo e sentir o que ele sentiu naquele momento. Carl Rogers que me desculpe. Não consegui. Somente uma pessoa de pele negra pode sentir o que ele sentiu naquela hora. Séculos de discriminação, de violência e que se mostra ainda presente em pleno século XXI. Esse sentimento, quem é branco, nunca irá entender. O máximo que conseguimos saber/sentir é que deve ser muito ruim. E deve doer muito. Principalmente na alma. Tinga, ontem você marcou um golaço. Parabéns pela declaração e desconsidere essa parte atrasada da humanidade.
 
 
Um abraço fraterno,
 
Douglas Amorim