segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Qual é a sua identidade profissional?

Das conversas com os amigos sempre sai um tema bom para ser explorado. Hoje gostaria de me ater ao tema identidade profissional. Não faço referência, nesse artigo, a aptidões específicas ou o caminho que deva ser seguido. A proposta de reflexão é sobre quem você é profissionalmente. Em outras palavras, procurar entender sobre o qualidade que você tem na atividade laboral que desempenha no seu dia a dia. Pode parecer estranho querer discutir esse tema; entretanto, vejo que muitas pessoas tem uma qualidade considerável na execução de seu trabalho e parecem ter pouca consciência disso. Entendo que isso acontece em todas as classes profissionais. Contudo, nos profissionais liberais, isso parece ser mais gritante. Digo isso porque penso ser importantíssimo o fato de se ter noção a respeito de quem você é profissionalmente. Encontro pessoas com uma consistência teórica/técnica que vivem reclamando de sua condição profissional, de sua remuneração, e da não consecução de objetivos materiais. Como resultado, não raro, muitas acabam por desistir da profissão e se aventuram em águas turbulentas, às vezes ingratas, como a tentativa de um emprego público, em áreas que não tem relação com a sua formação de base. Muitas vezes, isso acontece porque a pessoa não tem consciência de sua competência, valoriza pouco seu trabalho, cobra pouco por ele e se frustra. Você até poderia alegar que o preço do serviço tem de ser baixo em virtude da concorrência. Convido-o, no entanto, a pensar comigo: e por que será que existem profissionais que cobram honorários mais elevados? Como eles conseguem esse feito? Percebo que, quase sempre, eles são bons de serviço, sabem disso e cobram o que entendem ser justo por sua competência. Claro que existem também profissionais "picaretas" que só tem fachada e ganham rios de dinheiro. Mas isso não é conversa pra agora. Se você é bom profissional, aprenda a valorizar seu trabalho. E, se preciso for, diga para pessoa que te procura, os motivos do valor de seus honorários. Se eles forem justos e consistentes, muito provavelmente você será o escolhido para realizar aquela tarefa. Mas, para ser convincente, é fundamental você ter consciência do quanto sabe e do quanto pode fazer. Caso contrário, sua postura fica incoerente em relação a quem você é de verdade. Se você for bom de serviço, aprenda a se valorizar. Se você se acha fraco, invista pesadamente em sua formação.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Como você se comunica com seus filhos?

Hoje, dirijo-me especifamente aos pais e mães (acho péssima a idéia de chamar pai e mãe, de pais. Por isso fiz questão de fazer a separação dos termos). A reflexão de hoje gira em torno da maneira com a qual vocês se comunicam com seus filhos. Creio que esse seja um importante tema, uma vez que, palavras mal empregadas, podem trazer consequências desastrosas para qualquer pessoa. Quantos de nós já fomos mais feridos por palavras do que por agressões físicas? Às vezes, um soco causa menos impacto que uma palavra. Certa vez, estava atendendo uma paciente em meu consultório, quando ela me falou algo estarrecedor. Só pra contextualizar, ela tinha na época por volta de seus 34 anos e já estava em processo terapêutico comigo há dois anos e meio. Bem, a história resumidamente é essa: exatamente no meio de uma de nossas sessões semanais eis que, derepente, lembra-se de algo que sua mãe lhe disse quando estava com sete anos de idade. Não sei bem o que minha paciente fazia na ocasião, entretanto, lembro-me do que sua mãe havia mencionado a respeito: "menina, você não sabe fazer nada direito mesmo; nada dá certo". E, como numa professia lançada, lá estava minha paciente: 34 anos, sem ter tido capacidade de concluir seus estudos, sem profissão definida, muito acima do peso, com poucos namorados; engravidou sem planejamento, casou-se e a união não prosperou. Depressiva constantemente, dependente financeiramente da família em todos os sentidos, viu sua vida literalmente não dar certo. Nada me tira da cabeça que essa frase ficou armazenada no inconsciente dessa pessoa , inclusive, porque, ela veio à tona de modo bastante inesperado no consultório. Não vou entrar nos meandros de nosso trabalho, mas posso dizer que após identificar essa "profecia" e se recusar a permanecer nela, as coisas mudaram pra melhor. E muito... Portanto, pensem bem na hora de se comunicar com seus filhos. As palavras tem o poder de construir e de destruir vidas. Estejam atentos a isso e lancem "profecias" positivas para eles o tempo todo.
Observações finais: o Léo, um grande amigo, sugeriu que fizesse um pequeno adendo a este artigo. A frase que a mãe disse à filha não é algo isolado. Pelo contrário, demonstra sentimentos ruins, falta de crença na capacidade dela e falta de sensibilidade. Essa frase foi somente a "ponta de um iceberg" que se apresentou em um dado instante. Em outras palavras, um contexto negativo proporciona também uma comunicação de qualidade diminuída. Penso que esse registro seja importante, pois, todo ser humano pode pronunciar algo inadequado em um momento de desequilíbrio. Além disso, seria humanamente impossível cobrar perfeição na comunicação de pais, mães, ou de qualquer outra pessoa, 100% do tempo.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Democracia: da sociedade para o casal

Esta semana estive lendo o capítulo "Família", do livro Mundo em Descontrole - O que a globalização está fazendo de nós - do sociólogo inglês Anthony Giddens. Apesar do título, não pretendo discutir aqui nada a respeito da globalização. O que me chamou a atenção no referido capítulo foi o paralelo que autor traça entre a democracia pública e a relação entre o casal. Como, muitas vezes, questões de ordem social e política podem ajudar a refletir sobre situações de nossa intimidade. De acordo com o autor, o princípio da igualdade em direitos e responsabilidades é o alicerce da democracia. Significa a existência do respeito mútuo. E, para que esse princípio possa ser sustentado, o diálogo passa a ser o instrumento que irá viabilizar respeito entre as pessoas. Em suas palavras, "o diálogo aberto é uma propriedade essencial da democracia". Os sistemas democráticos são uma tentativa de tirar das mãos de poucos, a tomada de decisões. Em última instância, é a recusa ao autoritarismo. Agora, toda vez que a democracia é "assassinada" pelo autoristarismo e/ou violência, morrem também o respeito e a igualdade. Voltando para a relação entre o casal, vejo que é exatamente assim que acontece: toda vez que o diálogo não é eficiente, uma pessoa se sobrepõe a outra. Nasce, então, uma atitude autoritária e/ou violenta. A violência não precisa ser necessariamente física. Pode ser também psicológica, cultural, moral etc. Quando o diálogo não é de qualidade ou, quando a impaciência de um ou de ambos nas discussões não permite que o debate avance, a relação passa a correr riscos. Ainda, de acordo com Giddens: "o relacionamento puro é baseado na comunidade, de tal modo que compreender o ponto de vista da outra pessoa é essencial (Grifo nosso)". Como irá se compreender o que é essencial se não há diálogo ou disponibilidade para tal? Por isso, insisto: pense bem na forma como tem conduzido a comunicação em sua relação. Quando se sai da democracia e frequenta-se a zona árida do autoritarismo, o desrespeito está em curso. Desse modo, o relacionamento pode simplesmente falir, ou então durar, sendo assentado, porém, em bases neuróticas como medo, submissão etc. Amar também é respeitar, ouvir, dizer, compreender, debater, construir e transformar; e não, um jogo de disputa entre quem manda e quem obedece.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim