quarta-feira, 28 de maio de 2014

A Copa que NÃO empolga

Bandeiras nas janelas, bandeirinhas nos carros, ruas pintadas com motivos patriotas, pessoas vestidas de verde amarelo, música-tema da copa na ponta da língua. Onde estão? Não estão. E, honestamente, acho que não estarão e nem deveriam estar. Podem me acusar de anti-nacionalista o seja lá o que bem entenderem. Mas, o fato é que essa copa no Brasil não pegou. Até desconfio que, em dias de jogos, muitos brasileiros ficarão entorpecidos com a mágica do futebol, esporte fortemente absorvido pela nossa cultura. Mas não serão todos. Nem sei se será a maioria. Fato é que sinto um ódio no ar. Um ódio que estava adormecido e que rompeu, inclusive violentamente, nas manifestações de rua de junho 2013. Há um sentimento muito ruim de indignação que eclodiu a partir da aproximação do mundial.

Há uma crise de representação. Os brasileiros não se identificam mais com políticos, tampouco com partidos. É algo como se ninguém prestasse no congresso, senado, câmaras municipais e estaduais e no poder executivo. Esse ódio está sendo convertido em greves a torto e a direito, de várias classes profissionais. Está convertido em protestos que fecham as ruas, avenidas e estradas. Está estampado do rosto das pessoas que se ressentem de tantas coisas básicas e que veem bilhões gastos em estádios, muitos deles que ficarão praticamente inutilizados. Está na garganta de quem fica aprisionado no trânsito caótico das grandes cidades todos os dias, sem um transporte público minimamente razoável.
A população não respira a copa, definitivamente. Respira indignação. E, por isso, o foco mudou: não se está preocupado com o torneio, mas, sim, com a mudança da qualidade de vida do brasileiro. Com a utilização verdadeira dos impostos excessivos recolhidos para o benefício da sociedade. Não. Este ano não teremos bandeiras, bandeirinhas e ruas pintadas aos montes.  Teremos algumas (e olha que já estamos a quinze dias do mundial). Mas, o que teremos mesmo, são as exigências de uma vida melhor aos que nos governam, independentemente de quem for. Tomara que estejamos amadurecendo.
 Um abraço fraterno,
Douglas Amorim

quinta-feira, 22 de maio de 2014

O que a greve dos rodoviários de S.P. tem a ver com todos nós?

Pela imprensa, vi que o sindicato já havia entrado em negociação com as empresas e foi acordado um aumento de 10%. No entanto, a greve e as paralisações continuaram. Ou seja, quando o que é acordado pelo sindicato não é aceito pela categoria, surge algo perigoso: crise de representação.

Parece que os filiados não estão se sentindo bem representados pelo sindicato e se rebelaram contra ele. Não aceitaram o que foi acordado. Penso que vimos algo semelhante em junho do ano passado, no que diz respeito às manifestações. Na minha opinião, em última análise, o que houve naquela época foi uma CRISE DE REPRESENTAÇÃO.

Ou seja, a partir do momento em que os protestos não tinham nenhuma liderança política, o que estava estampado era a revolta com todos os políticos e partidos. Era como se as pessoas estivessem dizendo assim: "Ei, você político! Você não me representa! Nenhum de vocês me representa!". Aliás, vimos vários cartazes com esses dizeres.

Portanto, traçando um paralelo entre as manifestações de junho de 2013 e o que está acontecendo na questão dos rodoviários de São Paulo, tendo a acreditar que se trata da mesma coisa, porém, em menor escala. Assim como a grande massa não se sente representada pelos políticos e partidos atuais, uma categoria profissional (no caso, a dos rodoviários) não se sente representada pelo sindicato e se volta contra ele.

Pois bem. Se no sistema democrático, a representação é um dos seus pilares, penso estarmos diante de um nó difícil de ser desatado. Se ninguém se sentir mais representado seja lá por quem for e se virar definitivamente contra esses representantes (políticos, partidos, sindicatos etc.), onde iremos parar? Seria o fim da democracia no Brasil?

Qual caminho seguir se nossos modelos estiverem definitivamente esgotados? Sinceramente, não tenho respostas. A mudança mais do que nunca se faz necessária em nosso país. Mas qual o caminho? Abre-se espaço novamente para o discurso populista de um "salvador da pátria" ou pra algo mais crítico como uma ditadura? Se não for uma dessas vias, qual seria (ou seriam) outras possíveis? Volto a dizer: não tenho respostas. Mas tenho muitas, muitas preocupações sobre o que está por vir...
 
Um abraço fraterno,
 
Douglas Amorim