sexta-feira, 14 de março de 2014

DESABAFO DE UM BELO HORIZONTINO INCONFORMADO - Por Douglas Amorim

A música diz que “não há lugar melhor que BH”. Infelizmente, discordo totalmente de tal pensamento. Pra falar a verdade, nos últimos dez/quinze anos, BH se tornou um lugar muito ruim de se viver, no meu modo de entender.

Ontem ouvi pelo rádio, mais uma vítima da VIOLÊNCIA em nossa cidade. Um estudante de Engenharia da Universidade Fumec, pai de família, quarenta e oito anos, foi baleado numa tentativa de assalto a poucos metros da universidade. Nem estudar mais em paz, podemos. Anteontem, pelo mesmo rádio, ouvi a notícia de mais de dez assassinatos em menos de sete horas, na região metropolitana. Dia desses, um homem de terno e gravata tentou assaltar uma paciente minha, por volta das quinze horas, numa avenida importante da zona leste. Saidinhas de banco, assaltos a pessoas em restaurantes, assassinatos por motivos imbecis, como o ocorrido recentemente com um casal na região da Serra do Cipó, tornaram-se banalizados e incorporados ao dia a dia do belo horizontino. Ah, só pra constar: no último fim de semana, assaltaram meu sítio, que fica na região metropolitana. Levaram tudo. Um detalhe: sítio em condomínio fechado.

O TRÂNSITO é outra vergonha. Não conseguimos chegar em casa num tempo minimamente razoável, após um dia exaustivo de trabalho ou, então, pra conseguirmos chegar a ele, temos de acordar cada vez mais cedo, a fim de evitarmos engarrafamentos intermináveis. Chegar a compromissos com horário marcado, nem se fala; tornou-se loteria. Obras que não se entende os motivos e que produzem mais engarrafamentos como a colocação de um canteiro central, na avenida Afonso Pena, próximo ao Palácio das Artes, produzem mais e mais caos no trânsito, tal qual se vê no estreitamento da avenida Pedro II, antes de se chegar ao viaduto ou, na sacrificada barragem da Pampulha. A impressão que se tem é que, quanto mais se mexe, mais piora. Isso sem falar nas obras que parecem não terminar nunca e que testam a paciência de todos nós, nos adoecendo dentro de carros e ônibus. Aliás, por falar em ônibus, todos sabemos que esse BRT não é solução pra nada, segundo muitos renomados especialistas. E se, nem a Copa do Mundo foi capaz de nos mover na direção de uma ampliação efetiva do metrô, minha descrença com esse modo de transporte só faz aumentar.

Os PREÇOS de tudo o quanto há estão simplesmente absurdos. O custo de vida aqui se tornou uma exploração. Tudo parece subir num ritmo alucinante e que, nossas rendas, não acompanham. Desde uma simples água de coco, que custa absurdos cinco reais, passando pelos preços dos aluguéis comerciais e residenciais até chegar aos preços dos imóveis. Recentemente estive em Natal/RN e, ao comentar com os potiguares os preços das coisas por aqui, houve choque. Apenas como ilustração: o valor de um apartamento razoável, em um bairro de classe média de BH, custa por volta de R$450.000,00 Reais. Esse mesmo valor compra um bom apartamento no bairro mais nobre da zona sul de lá, conhecido como Ponta Negra (o melhor bairro da cidade e onde fica a linda praia com o cartão postal Morro do Careca). Pra quem não conhece, é como se fosse Lourdes ou o Belvedere de lá. Ao frequentar restaurantes, outro descompasso. Numa cidade turística – vejam bem, eu disse turística – bons pratos custam metade ou menos do que aqui em BH. Táxi também é muito mais barato. De repente poderiam me interpelar com frases do tipo: “está ruim aqui, vá pra lá”! Mas, não se trata disso. Trata-se, apenas, de uma comparação com uma cidade turística. Não há razão para tanta elevação no preço de praticamente tudo em nossa capital. E, a sensação de sermos explorados diariamente é muito triste; por vezes, revoltante.

A FALTA DE EDUCAÇÃO E PACIÊNCIA do belo horizontino (não todos, mas, em boa parte) é outra coisa que tem me assustado. Começando pelos prestadores de serviços das mais variadas áreas. Desde serviços braçais/operacionais até mão de obra técnica/especializada/complexa. Além dos valores cobrados por esses profissionais ser um despautério na maioria das vezes, frequentemente, as pessoas prestam tais serviços com a cara fechada, com meias palavras, com condutas mal educadas e grosseiras, como se estivessem nos fazendo um favor. Sinto isso em garçons, pedreiros, bombeiros/eletricistas, taxistas (esses, nem se fala), secretárias de médicos, de dentistas, além de muitos dos próprios profissionais de saúde. Vocês não estão nos fazendo um favor! Estão sendo pagos e muito bem, por sinal, pra nos atender. E mesmo que fosse favor, não se faz um favor tratando mal as pessoas. No trânsito a falta de educação e paciência se revela também nítida, numa espécie de vale-tudo, no qual sobrevive o mais forte e agressivo. A sensação do cada um por si e o resto que se dane é cada vez mais dominante, aos meus olhos, em nossa BH.

UMA PREFEITURA INJUSTA e muito incompetente, que não sabe dialogar com a população de maneira sensata e que pratica atos muito abusivos como aumentar, aumentar e aumentar impostos. Recentemente o ITBI foi reajustado, e que já é imposto caro por natureza, isso, sem falar no aumento do ISSQN e, atualmente, mais um aumento injustificável: quarenta e cinco por cento na taxa de recolhimento de lixo. De onde vem esse número se a inflação oficial do governo se situa entre cinco e seis por cento? Agora, mais uma desse governo municipal desgovernado. Caso alguém sofra um acidente e bata o carro em uma árvore, irá ter de pagar a árvore sobre o pretexto de ter cometido um crime ambiental. Ora, mas um acidente pode ter sido tão somente um acidente, portanto, não intencional! A desculpa do “politicamente correto” – onde fica nítido, nesse caso, a desculpa da proteção ao meio ambiente – na verdade, simboliza mais uma forma grotesca de arrecadação desmedida dessa prefeitura desumana e com sede de dinheiro. Acabo de saber que o número de radares em BH passará de 119 para 343 até o final do ano. Mais uma fábrica de dinheiro sob a justificativa politicamente correta de se preservar a vida.


BH não é mais um bom lugar de se viver como outrora. Infelizmente, é essa a realidade. Todas as cidades têm seus problemas, é verdade. Mas, o que me espanta é que, a degradação das relações sociais, a violência endêmica, os problemas de trânsito, a falta de solidariedade das pessoas, a incompetência política e o encarecimento esquizofrênico do custo de vida ocorreram muito, mas muito rápido. Não data de mais de dez ou quinze anos pra cá. Não tenho a menor ideia de onde esse cenário irá parar. Só sei que nossa cidade fica a cada dia mais violenta, egoísta, triste, cara, adoecedora, imóvel e abandonada pela autoridades. Eu já tive muito orgulho e amor por essa terra. Hoje, não mais. Esse é o desabafo de um cidadão de Belo Horizonte, inconformado, que gostaria de ter escrito exatamente o contrário de tudo o que foi dito nessas breves linhas.

Um abraço fraterno,

Douglas Amorim