A música diz que “não há lugar
melhor que BH”. Infelizmente, discordo totalmente de tal pensamento. Pra falar
a verdade, nos últimos dez/quinze anos, BH se tornou um lugar muito ruim de se
viver, no meu modo de entender.
Ontem ouvi pelo rádio, mais uma
vítima da VIOLÊNCIA em nossa cidade. Um estudante de Engenharia da Universidade
Fumec, pai de família, quarenta e oito anos, foi baleado numa tentativa de
assalto a poucos metros da universidade. Nem estudar mais em paz, podemos. Anteontem,
pelo mesmo rádio, ouvi a notícia de mais de dez assassinatos em menos de sete
horas, na região metropolitana. Dia desses, um homem de terno e gravata tentou
assaltar uma paciente minha, por volta das quinze horas, numa avenida
importante da zona leste. Saidinhas de banco, assaltos a pessoas em
restaurantes, assassinatos por motivos imbecis, como o ocorrido recentemente
com um casal na região da Serra do Cipó, tornaram-se banalizados e incorporados
ao dia a dia do belo horizontino. Ah, só pra constar: no último fim de semana,
assaltaram meu sítio, que fica na região metropolitana. Levaram tudo. Um
detalhe: sítio em condomínio fechado.
O TRÂNSITO é outra vergonha. Não
conseguimos chegar em casa num tempo minimamente razoável, após um dia
exaustivo de trabalho ou, então, pra conseguirmos chegar a ele, temos de
acordar cada vez mais cedo, a fim de evitarmos engarrafamentos intermináveis.
Chegar a compromissos com horário marcado, nem se fala; tornou-se loteria.
Obras que não se entende os motivos e que produzem mais engarrafamentos como a
colocação de um canteiro central, na avenida Afonso Pena, próximo ao Palácio
das Artes, produzem mais e mais caos no trânsito, tal qual se vê no
estreitamento da avenida Pedro II, antes de se chegar ao viaduto ou, na
sacrificada barragem da Pampulha. A impressão que se tem é que, quanto mais se
mexe, mais piora. Isso sem falar nas obras que parecem não terminar nunca e que
testam a paciência de todos nós, nos adoecendo dentro de carros e ônibus.
Aliás, por falar em ônibus, todos sabemos que esse BRT não é solução pra nada,
segundo muitos renomados especialistas. E se, nem a Copa do Mundo foi capaz de
nos mover na direção de uma ampliação efetiva do metrô, minha descrença com
esse modo de transporte só faz aumentar.
Os PREÇOS de tudo o quanto há
estão simplesmente absurdos. O custo de vida aqui se tornou uma exploração.
Tudo parece subir num ritmo alucinante e que, nossas rendas, não acompanham.
Desde uma simples água de coco, que custa absurdos cinco reais, passando pelos
preços dos aluguéis comerciais e residenciais até chegar aos preços dos imóveis.
Recentemente estive em Natal/RN e, ao comentar com os potiguares os preços das
coisas por aqui, houve choque. Apenas como ilustração: o valor de um apartamento
razoável, em um bairro de classe média de BH, custa por volta de R$450.000,00
Reais. Esse mesmo valor compra um bom apartamento no bairro mais nobre da zona
sul de lá, conhecido como Ponta Negra (o melhor bairro da cidade e onde fica a
linda praia com o cartão postal Morro do Careca). Pra quem não conhece, é como
se fosse Lourdes ou o Belvedere de lá. Ao frequentar restaurantes, outro
descompasso. Numa cidade turística – vejam bem, eu disse turística – bons pratos
custam metade ou menos do que aqui em BH. Táxi também é muito mais barato. De
repente poderiam me interpelar com frases do tipo: “está ruim aqui, vá pra lá”!
Mas, não se trata disso. Trata-se, apenas, de uma comparação com uma cidade
turística. Não há razão para tanta elevação no preço de praticamente tudo em
nossa capital. E, a sensação de sermos explorados diariamente é muito triste;
por vezes, revoltante.
A FALTA DE EDUCAÇÃO E PACIÊNCIA
do belo horizontino (não todos, mas, em boa parte) é outra coisa que tem me
assustado. Começando pelos prestadores de serviços das mais variadas áreas.
Desde serviços braçais/operacionais até mão de obra
técnica/especializada/complexa. Além dos valores cobrados por esses profissionais
ser um despautério na maioria das vezes, frequentemente, as pessoas prestam
tais serviços com a cara fechada, com meias palavras, com condutas mal educadas
e grosseiras, como se estivessem nos fazendo um favor. Sinto isso em garçons,
pedreiros, bombeiros/eletricistas, taxistas (esses, nem se fala), secretárias
de médicos, de dentistas, além de muitos dos próprios profissionais de saúde.
Vocês não estão nos fazendo um favor! Estão sendo pagos e muito bem, por sinal,
pra nos atender. E mesmo que fosse favor, não se faz um favor tratando mal as
pessoas. No trânsito a falta de educação e paciência se revela também nítida,
numa espécie de vale-tudo, no qual sobrevive o mais forte e agressivo. A
sensação do cada um por si e o resto que se dane é cada vez mais dominante, aos
meus olhos, em nossa BH.
UMA PREFEITURA INJUSTA e muito
incompetente, que não sabe dialogar com a população de maneira sensata e que
pratica atos muito abusivos como aumentar, aumentar e aumentar impostos.
Recentemente o ITBI foi reajustado, e que já é imposto caro por natureza, isso,
sem falar no aumento do ISSQN e, atualmente, mais um aumento injustificável:
quarenta e cinco por cento na taxa de recolhimento de lixo. De onde vem esse
número se a inflação oficial do governo se situa entre cinco e seis por cento?
Agora, mais uma desse governo municipal desgovernado. Caso alguém sofra um
acidente e bata o carro em uma árvore, irá ter de pagar a árvore sobre o
pretexto de ter cometido um crime ambiental. Ora, mas um acidente pode ter sido
tão somente um acidente, portanto, não intencional! A desculpa do “politicamente
correto” – onde fica nítido, nesse caso, a desculpa da proteção ao meio
ambiente – na verdade, simboliza mais uma forma grotesca de arrecadação
desmedida dessa prefeitura desumana e com sede de dinheiro. Acabo de saber
que o número de radares em BH passará de 119 para 343 até o final do ano. Mais
uma fábrica de dinheiro sob a justificativa politicamente correta de se preservar
a vida.
BH não é mais um bom lugar de se
viver como outrora. Infelizmente, é essa a realidade. Todas as cidades têm seus
problemas, é verdade. Mas, o que me espanta é que, a degradação das relações
sociais, a violência endêmica, os problemas de trânsito, a falta de
solidariedade das pessoas, a incompetência política e o encarecimento
esquizofrênico do custo de vida ocorreram muito, mas muito rápido. Não data de
mais de dez ou quinze anos pra cá. Não tenho a menor ideia de onde esse cenário
irá parar. Só sei que nossa cidade fica a cada dia mais violenta, egoísta,
triste, cara, adoecedora, imóvel e abandonada pela autoridades. Eu já tive
muito orgulho e amor por essa terra. Hoje, não mais. Esse é o desabafo de um
cidadão de Belo Horizonte, inconformado, que gostaria de ter escrito exatamente o contrário
de tudo o que foi dito nessas breves linhas.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim