segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Falta de tempo assassina criatividade

Parece até a manchete de um jornal policial. Talvez, até o seja. No último domingo fui interpelado pelo amigo Rubens a respeito de não ter postado artigos em meu blog. Dei-lhe uma desculpa que a princípio pode parecer esfarrapada, mas que é a mais pura verdade. Não escrevi porque não tive tempo. Estive muito ocupado nessa última semana com o consultório (vários casos difíceis), assim como em relação ao Mestrado. Reta final deste tipo de curso realmente não é nada fácil... Sendo assim, não escrevi uma linha sequer no blog. Por isso, resolvi escrever essas breves palavras. A falta de tempo, na minha concepção, é inimiga da criativade. Pela falta de tempo não pude criar nada pro blog. Outros ainda, que tem na capacidade criativa a origem de seu ganha- pão devem sofrer muito. Penso no meu amigo Léo. O Léo é um publicitário que trabalha em uma agência conceituada de Belo Horizonte. Sabe criar como poucos. Entretanto, está submetido a lógica perversa e acelarada do capitalismo. Tem de criar sempre rápido, na marra. Duvido que o Léo tenha o tempo que deseja para elaborar as suas obras. E assim a coisa vai se desenrolando de maneira caótica, pois a criatividade é inversamente proporcional à velocidade (a não ser quando é do estilo do criador da obra). Uns não criam por falta de tempo; outros têm de criar sob a pressão do relógio do capital. Concordo plenamente com Paul Lafargue, autor do livro "O Direito à Preguiça". De acordo com ele, a humanidade seria muito mais feliz e criativa se trabalhasse menos. Menos horas de trabalho e mais tempo de dedicação aos lazeres e às artes. O problema é que isso vai na contramão do sentido capitalista de produção. Ou seja, o ser humano tem cada vez mais reduzido, o tempo para si. O resultado disso é óbvio: realmente a humanidade fez avanços tecnológicos tremendos nos últimos anos. Entretanto, a escassez que se faz presente nas artes sejam elas musicais ou pláticas, literárias ou cênicas também se faz notória. Pensar, também não anda muito na moda. Quantos filósofos e/ou sociólogos contemporâneos de expressão conhecemos, se os compararmos aos de outras épocas? Penso na Grécia , aonde as pessoas tinham mais tempo para pensarem e criarem. Hoje, a criatividade anda intimidada pelo relógio, pela produção rápida e em larga escala. É como se as criações tivessem de ser produzidas nas linhas de montagem das grandes fábricas. O Léo segue na sua batalha diária. Apesar de tudo, consegue criar coisas inteligentes e consistentes. Outros, como eu, apenas quando têm uma brechinha em seu tempo. Concordo com o Paul. Com menos horas de trabalho, a humanidade estaria tão desenvolvida quanto agora, ou, quem sabe, talvez até mais.
Um abraço fraterno,
Douglas Amorim